A oração começa com o mais
espontâneo dos atos: dor, gratidão, ira. Ela ocorre em fragmentos e é
vivenciada abruptamente, sem transições. Porém, à medida que prossegue,
desenvolve conexões subterrâneas – reunindo e organizando – e se tornando nossa
ação mais abrangente. A oração amadurece na prática da memória.
É comum entre os que nos
ensinam os Salmos organizá-los por estilo ou tipo: salmos de gratidão, salmos
da natureza, salmos messiânicos, salmos de perdão. Apesar de bem-intencionada,
essa prática é equivocada. A oração não dá um jeito em nossa atrapalhada
rotina. Ela não coloca em ordem nossas desorganizadas vidas dentro de pastas
etiquetadas.
A oração é a intensificação
da vida. Uma vez que a vida não se apresenta a nós dividida em categorias
distintas, assim também é a oração. Os Salmos nos ensinam a orar mergulhando-nos
nas correntezas da vida como ela se apresenta a nós, molhada e agitada.
Nós aprendemos a orar não com
gramática, mas com os nossos pais, da mesma forma que aprendemos a linguagem. Nossos
primeiros professores de Português, os nossos pais, não nos ensinaram primeiro
os substantivos, depois os verbos. Nós aprendemos a linguagem como ela chega a
nós, em palavras desarrumadas e confusas. Na oração, os Salmos são nossos pais, não
nossos professores.
Referência: Eugene H. Peterson. A oração que
Deus ouve. Brasília: Palavra, 2007.